BRAGA

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BRAGA - Vista do Santuário de Bom Jesus do Monte

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mas nem tudo são flores.

Fazer intercâmbio é aquela maravilha, né? Para pra pensar: você tá num país diferente, muitas vezes com com uma língua diferente, você está vendo lugares e conhecendo pessoas novas, fazendo coisas que você jamais se imaginou fazendo antes, tudo é muito bom, tudo vai muito bem. Se você veio pra ficar um ano, esse vai ser o ano mais incrível E-VER, certo?
Errado.

Uma das coisas que esqueceram de me falar é que uma hora a alegria infinta acaba, e ai você dá de cara com a realidade de que na verdade você está sozinha num país estranho e bem distante da sua casa, e que nada é tão bom quanto o que você conhecia antes e que se alguma coisa te acontecer, ninguém vai poder te ajudar, e ai você começa a chorar todo o dia, o dia todo, querendo voltar pra casa pra voltar a ser feliz.
Esqueceram de me contar também que isso é uma fase, e todo mundo passa por ela. A chamada fase de adaptação cultural, e que acontece mais ou menos quando batem os 3 ou 4 meses mesmo. Quando eu comecei a sentir tudo isso, eu não sabia que era uma coisa passageira, e eu meio que me tranquei na minha própria cabeça achando que aquela angústia e ansiedade iam se instalar no meu corpinho e que a única solução pro meu problema seria voltar pra casa e abraçar minha família e ficar eternamente grudada neles. Ninguém mais trabalha e ninguém mais estuda, passaríamos o dia abraçados e fazendo as coisas em bloquinho. Parecia extremamente plausível.

O que te segura no intercâmbio, ou o que me segurou pelo menos, é a vontade de terminar. De no futuro poder contar a história completa do seu intercâmbio, de como você fez amigos que estão espalhados pelo mundo, e não de como você largou na metade e voltou pra casa com o rabo entre as pernas. Não é a universidade que te prende, porque você já tem a sua lá na sua casa e não precisa de outra; não é a cidade, porque você também já tem uma, e a sua é bem melhor e tem mais coisas pra fazer; não é a possibilidade de viajar por um preço mais acessível já que você já está no continente certo, porque você junta dinheiro mais uns 10 anos e vai fazer turismo depois, quando der. Não são as pessoas também, porque dessas você já ia se despedir de qualquer forma. O que te prende é a vontade de superar essa fase ruim. De acordar daqui 20 anos e pensar em como foi bom você ter ficado, porque você aproveitou tantas oportunidades que você teria perdido se tivesse desistido.



Mas olha, não é fácil. Eu passei uma semana num desespero completo, uma angústia interminável e com a certeza de que ia enlouquecer. Eu evitei ficar sozinha só por medo dessa angústia tomar conta de mim. Eu ia dormir todo o dia pensando 'menos um, só mais uns 260 pra encarar' e acordava pensando 'ai não, mais um dia, não vou aguentar'. Eu estava decidida a voltar o mais breve possível sem comprometer meu semestre aqui. É uma fase em que você se sente muito sozinha, mesmo que sua irmã esteja do seu lado comendo sucrilhos. Você pensa em casa e em tudo que você deixou pra trás e como tudo era tão bom, e ai você tenta se convencer a ficar porque você fez bons amigos, mas depois você lembra que eles vão embora em fevereiro e você vai voltar a ficar sozinha. É um pensamento meio cíclico, e no meio disso tudo você tem ainda que fazer trabalhos da faculdade e sobreviver mais um dia.

E como passar por isso sem enlouquecer ou desistir, né? Vejam, é um processo natural, ele acontece com todo mundo. Algumas pessoas sofrem mais do que outras, mas tudo depende da personalidade de cada um. Eu, por exemplo, sou a pessoa mais emocionalmente dependente que existe. Quando eu pensava nos meus pais ou na minha vózinha, tudo o que me faltava era ligar na companhia aérea a marcar meu voo. Quando eu chegasse em casa eu resolvia documentação de universidade e essas coisas. A Rê, por outro lado, parece uma pedra insensível que nada teme nessa vida, e pra ela tudo continua as mesmas maravilhas de quando ela chegou aqui.
O importante nesse período é falar. Fala tudo o que você tá sentindo, conversa com quem tá por perto, manda emails em 5 volumes pros seus familiares e amigos, escreve no seu caderninho se você tiver um, mas não guarda essa angústia dentro de você. Vai falar com os outros intercambistas, 90% das pessoas passa pelo mesmo processo. Se for o caso, vai na universidade e fala com a pessoa de RI que te atendeu, eles podem ajudar. Eu, por exemplo, estou com uma consulta marcada na psicóloga daqui a pouco, só pra poder falar mais ainda sobre a minha situação (são poucas as pessoas em Braga, Portugal, que ainda não ouviram minhas crônicas de desespero e solidão). Não tem nada errado com se sentir assim. O importante é saber que é uma fase, e que passa. Ter consciência disso te ajuda a superar o problema.

Por enquanto eu ainda estou por aqui, e tudo indica que minha fase de dias depressivos já passou. Estou indo atrás de atividades pra fazer, teatro, esportes, essas coisas. Distrações. O fato de saber que, na pior das hipóteses, eu posso pular num avião e em 12h eu to em casa é sempre um alívio. Mas eu to aguentando, e eu vejo dias melhores e muito melhores vindo pela frente. O que me resta é aproveitar por aqui e deixar pra pensar em voltar quando eu estiver mais perto de voltar.
E ai eu vou ter que me preparar para o choque cultural de reentrada, porque sim, meus queridos, ele existe.


Não sei quem me convenceu que intercâmbio era uma boa idéia.