BRAGA

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BRAGA - Vista do Santuário de Bom Jesus do Monte

sábado, 27 de agosto de 2011

E como foi que eu cheguei aqui, literalmente?

Pra começar eu preciso que seja sabido por todos que eu não costumo chorar muito com a vida, sabe. Assistindo UP! - Altas Aventuras eu meio que viro um poço de lágrimas e palavras incompreensíveis, agora com coisas da vida assim, não muito. A não ser que seja despedida, mas a gente chega lá.

Era um domingo de frio e chuva na cidade de Townsville de São Paulo quando eu fui acordada por volta das 9h da manhã, sentindo os efeitos pós-mojitos da festinha do dia anterior - aproveitando, parabéns pai, tava sucesso, e obrigada aos amigos que foram, me senti muito bem quista - pra, imaginem só, terminar de arrumar minha mala. Encurtando bastante a história, foi uma correria histérica que durou umas 3h, e envolveu cenas onde as almofadas do sofá eram atiradas pela sala à procura do meu celular (não achamos, comprei outro).
Mas essa é a parte boa da história. Depois que tudo foi arrumado no porta-malas, era hora de eu dar meu adeus pra minha casa. E não foi fácil, porque eu sou o tipo de pessoa que se apega às casas (e às pessoas, e aos objetos, e aos animais, e ad infinitum), e essa casa tem história, já tá na família há uns 40 anos; complica também porque quando eu voltar, no lugar dela eu vou encontrar uma fundação de um 'Futuro Lançamento - Apartamentos de 48m² e 63m² - Chácara Klabin ao seu alcance!' no lugar. Foi um adeus meio corrido, meio mal dado, mas foi o menos pior. Nem chorei.
Uma das coisas que eu sempre sinto nessas situações onde alguma mudança grande vai acontecer é tipo uma esperançazinha de que alguma coisa dê errado, mesmo quando você quer que tudo dê certo. As variáveis são tantas que pra alguma coisa dar errado não é difícil, né. Não foi dessa vez.
Não tinha trânsito de São Paulo a Guarulhos, que por si só já é sinal do apocalipse; não tinha fila no check-in, não tinha problema com a bagagem de mão e nem com a documentação. Eu até olhei pro céu e falei 'mas gente, avião decola com o teto baixo assim?' Descobri que decola, só não pode pousar. Tava tudo certo, não tinha nada me impedindo de ir. Nada me obrigando a ficar.
Depois de um lanche superfaturado, era chegada a hora; meu pesadelo na terra, minha fraqueza, meu tormento: despedidas. E eu tava tão bem pra quem vai passar um ano fora, não tinha me abalado tanto. Mas lanço o desafio a qualquer um: quero ver sua vózinha, tão pequetita, te abraçar chorando e você não virar uma bolota de soluços bem ali, na frente de todo mundo. E ai depois o seu pai, 1,80m de tanta alegria e sensatez, dando mini solucinhos e te abraçando apertado. E a minha mãe, essa traíra, chora assistindo Pokémon - O Filme, mas se segurou na hora de dar tchau. E eu me segurei nela. Não queria largar. Queria ir, mas queria que ela fosse junto. E nossa, eu chorava. E se alguém, qualquer um, me pedisse pra ficar, eu ficava. Não pediram, e eu fui. Passou misteriosamente quando cheguei no free shop.

As próximas 10h são super monótonas e extremamente irritantes - não tem nada pior que viajar resfriada ou querer dormir e a luz da televisão ficar te cegando por horas.
Chegando em Madri, mais correria: o embarque pra Porto começava em menos de 30min, e eu descobri nessas que 1. não sei ler e 2. o aeroporto de Madri é e-nor-me. Lindo, mas enorme. Depois de passar na imigração, eu olhei na passagem que o embarque era no portão F, e dá-lhe nós correndo atrás desse puto, que não era indicado em placa nenhuma. Chegamos num ponto sem retorno: as escadas rolantes só desciam e era proibido entrar nos elevadores, só se podia sair deles. 'HOLAA, TO PRESA! que que eu façooo?!?!'. Eis que a Re me fala 'mas Ra, tá escrito portão K aqui..' e eu descubro que F era meu assento. Falha nossa. Sendo assim, ótimo, tem uma placa pro portão K seguida de '18min', a gente tá no caminho certo, tudo vai dar certo.
Não vai. 18min é o tempo que leva até chegar no portão K. Você pega um trem que te leva até o terminal onde fica o tal do portão K. E entre você e o portão K tem uma fila imensa de gente pra passar no raio-X. E você já vai abrindo a mochila pra tirar o notebook, mas não é tão simples assim. Nada nos bolsos, bota ou sapatos vão na bandeja, Vans de cano alto também, aparentemente. E a desvantagem de levar um iPig na mochila: ele parece uma bombinha simpática. E enquanto eu calçava o sapato, o moço me pedia pra revistar minha mochila. Ele até foi rápido, mas eu não tinha tempo pra perder. Saí correndo com o notebook na mão mesmo e o tênis desamarrado, só pra descobrir que o portão K vai do K62 ao K98 e eu não tinha a menor ideia de qual era o meu. Uma coisa que eu não posso negar, porém, é que eles são bem sinalizados e tem gente pra dar informação. Chegamos descabeladas na mocinha da Iberia e ela disse que, óbvio, nosso voo tava atrasado, e só ia sair dali umas 2h. Assim sendo, free shop time once again.

As próximas 3h são legais, mas blah. Chegando a Porto, um novo desafio: 2 meninas, 3 malas, 90kg e 55Km até nossas novas camas. Na hora que a senhora do balcão de informações turísticas falou ‘metrô e trem’ eu gelei. Será que ela não tá vendo essas três malas gigantescas embaladas em papel filme verde limão atrás de mim? Mas pelo visto é isso ou um investimento em táxi maior do que me permite meu saldo bancário. Subimos o elevador imaginando o metrô de São Paulo e preparando o psicológico pra quantidade de olhares tortos que certamente nos seriam direcionados. Surpresa, surpresa: o metrô é lindo e limpo e moderno e tem um botão na porta que você fica apertando pra ela não fechar até conseguir carregar as malas pra dentro. Apertamos o botão mais de uma vez. E o vagão até enche, mas não é tipo uma linha vermelha às 6h30, é mais uma linha verde às 10h30 da manhã. E principalmente, as pessoas são educadas. E eu acho que é isso que faz a diferença. No trem é a mesma coisa, mesmo botão na porta, mesmo tudo, só que maior. Tudo bastante europeu.

Chegando em Braga, pegamos táxi até o alojamento, fizemos o cadastro na portaria, fomos apresentadas ao quatro e às regras, largamos as malas num canto e dormimos por algumas boas horas. No dia seguinte a gente daria início a outro desafio, mas graças ao bom Deus as malas não iam junto. Elas tão largadas num canto até agora.
O próximo desafio é arrumar o quarto, continuem acompanhando.

3 comentários:

  1. Só consegui pensar em duas coisas: táquipariu se eu tivesse ido me despedir de você no aeroporto...seria a primeira tsunami de lágrimas documentada. E segundo que, caraaaamaba! Quando tem que dar certo, vai dar certo (:

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  2. Incrível como antes mesmo de ler quem postou a gente distingue uma da outra! rs

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